Lições da Vida e da Morte

Meu Pai

A vida é assim, repleta de chegadas e partidas.

Dizem que aprendemos muito mais com as tristezas e decepções do que com as alegrias e vitórias, mas independente de tudo, não podemos sufocar certas dores, nem adiá-las ou transferi-las.

Também dizem que cada um tem sua Cruz e que esta nunca é mais pesada do que possamos carregar.

Independente da fé de cada um, o fato é que passamos pela impotência da morte de alguém que amamos em algum período de nossas vidas.

Desde os 11 anos perdi pessoas próximas, começando pelos avós e aos 24, perdia meu pai.

Não estou aqui para dimensionar dores, muito menos para compará-las. Se há algo que a morte ensina para quem quer aprender é a impossibilidade de compreender uma dor sem senti-la.

Minha vida mudou de rumo com a morte de meu pai em um acidente de trânsito, em uma segunda-feira da Semana Santa, exatamente uma semana antes dele completar 54 anos.

E uma carteira de couro, que seria seu presente, foi à terra no bolso do paletó fúnebre sem nunca ter sido presenteada como esperado; e muitas de suas coisas foram furtadas na noite do velório, onde em minha mente e meu coração nada mais cabia que o desespero de tentar compreender o que estava acontecendo, mas para outros foi uma oportunidade covarde perfeita; e eu deixaria o emprego, deixaria sonhos, deixaria uma forma de viver completamente no passado e teria que enfrentar, graças aos céus acompanhada de minha mãe, muitas e muitas situações atípicas, difíceis, desconhecidas e cruéis espelhada na força de quem se foi e com bençãos divinas que explicam nossas vitórias em um campo minado.

Nove anos depois eu teria muito para dizer ao meu pai, contar sobre tantas mudanças em uma cidade tão pequena; sobre tudo que tivemos que enfrentar; sobre como certas pessoas se revelaram tão boas e parceiras, enquanto outras extremamente ambiciosas e traiçoeiras e que nos mantivemos firmes como poucos, errando e acertando, sobrevivendo em uma guerra sem armas, em que aprendemos a lutar nos defendendo, confiando que a colheita chega para todos, independente do que se planta.

A dor fortalece? De algumas perspectivas sim, mas de outras não. Quando se fere novamente uma pele já cicatrizada, o impacto não precisa ser tão forte para ferir mais e mais profundo. É verdade que acabamos por confeccionar escudos poderosos em cada lição da vida, mas também é verdade que quando conseguem nos atingir, o estrago causado por algo menor acaba sendo bem maior, afinal, lutar cansa, há um limite de forças.

Nos últimos tempos antes de partir, meu pai dizia estar decepcionado com a ingratidão humana. Provei e provo muito deste fel também e vejo como as pessoas, cada vez mais egoístas e ambiciosas, constroem muros ao invés de pontes. Quanta dor é causada inutilmente com indiferença cada vez maior e caráter cada vez menor.

Se eu pudesse aconselhar algo, da minha pequenina experiência com a vida e a morte, diria para você viver mais com os seus. Um dia qualquer não é qualquer dia e mesmo que o último demore a chegar, é no hoje que você vai alimentar sua alma para os dias em que as repostas serão o silêncio daqueles que não estão mais; também diria para não se privar dos pequenos prazeres da vida: comer o que gosta, dormir um pouco mais, presentear alguém, sorrir para um desconhecido, ser gentil sem esperar retorno, perdoar e pedir perdão, vencendo o orgulho inútil. Entre uma reunião entre “pessoas importantes” e uma hora à mais com seu filho, opte pela segunda – para as pessoas da reunião você é substituível, para seu filho, não.

Logicamente é preciso usar a inteligência o discernimento. É preciso trabalhar, é preciso viver entre aqueles que ainda não compreenderam que nossa passagem é breve e que os bens, mais ainda os ilícitos, não podem comprar os dias que vão, nem a consciência tranquila, nem as verdadeiras alegrias.

Independente de sua fé para o depois, o depois não chegou e é agora que você tem que aproveitar os milagrosos instantes chamados vida. O que você está esperando para dar-se uma pequena alegria agora? O que você está esperando para fazer alguém feliz, agora?

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2 comentários sobre “Lições da Vida e da Morte

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